Rotas do vinho num Douro Superior

Quando falamos de Douro, a primeira imagem envolve normalmente encostas íngremes com vinhas em socalcos a desaguar num rio calmo, cruzando regularmente por navios de cruzeiro.

Uma paisagem de vales monumentais, moldados pela força de homens e mulheres ao longo de gerações, e protegida pela UNESCO desde 2001, origem das uvas que vão viajar até aos armazéns de Gaia e daí para o mundo sob a forma de vinho do Porto.

Mas temos mais Douro para lá desse vinho icónico que resiste à passagem dos séculos e deu fama à região.

Temos o Douro dos espumantes a envelhecer em caves escavadas na rocha à força de picaretas e dinamite, o Douro dos vinhos produzidos em altitude, longe das águas do rio e perto das aves de rapina, onde as temperaturas chegam aos 45 graus no Verão e abaixo de zero no Inverno.

E temos o Douro do todo-o-terreno, que os une a todos por caminhos pouco percorridos, através de vinhas e amendoais, descidas íngremes, encostas escorregadias e paisagens de cortar a respiração.

Ao desafio na lama

Ao longo de três dias foi possível sentir todos esses "Douros", num percurso desenhado pelo Clube Escape Livre entre as cidades de Freixo de Espada à Cinta e Peso da Régua.

O Raid Jeep TT Douro atravessou várias vinhas do Douro, recuperando as edições que celebraram o Douro como Cidade Europeia do Vinho, e permitiu testar as qualidades de condutores e veículos em pisos desafiantes devido à chuva que se fez sentir nos primeiros dias.

Os primeiros metros de todo-o-terreno foram percorridos nas vinhas da Quinta de Castelares, produtor de destaque no Douro Superior, com o caminho enlameado a passar junto às cepas da tradicional Códega do Larinho.

O solo xistoso que potencia vinhos frescos e minerais transformou-se em pista de obstáculos com zonas escorregadias a trazer alguma emoção aos participantes, que seguiram viagem acompanhando o rio Douro de perto.

Depois da passagem pelo Pinhão, a caravana com mais de 40 carros chegou a Alijó, casa do moscatel de Favaios.

Na adega cooperativa local foi acrescentada mais uma camada a este Douro múltiplo, com a prova de um moscatel envelhecido em barrica, solução criativa encontrada pelos produtores da região depois de terem sido excluídos da zona elegível para produção de vinho do Porto.

Uma fraqueza que se transformou em força já que permitiu criar um dos licorosos mais reconhecidos do país.

Douro de postal

Para o último dia do passeio ficaram reservadas as vistas clássicas da região.

Depois de visitar o centro interpretativo da mulher duriense, em Armamar, homenagem merecida a quem sempre desempenhou um papel essencial no desenvolvimento da região, os participantes rumaram às caves da Murganheira onde tiveram a oportunidade de percorrer as galerias escavadas no granito azul onde repousam mais de 3 milhões de garrafas de espumante.

Para finalizar, foi servido um porto tónico no terraço do museu do Douro, miradouro privilegiado para observar o movimento de barcos de cruzeiro nos cais onde em tempos foram embarcadas as barricas de vinho que barcos rabelos tentavam entregar sem sobressaltos nas caves de Gaia.

"O Raid Jeep TT Douro é mais do que um passeio todo-o-terreno", explicou o director de marketing da Jeep Portugal em jeito de balanço. "É uma celebração da ligação entre a natureza, a cultura e a liberdade que define o espírito Jeep".

Segundo Luís Domingues, "esta edição voltou a demonstrar a versatilidade da nossa gama, que enfrentou com distinção as exigentes condições do percurso, à altura da beleza única do Douro".

Na hora de fechar o fim de semana, o presidente do Clube Escape Livre, afirmou que a terceira edição do Raid Jeep TT Douro foi "um enorme sucesso e correspondeu às expetativas de todos aqueles que desejavam repetir o percurso da primeira edição e os muitos que não o conseguiram em 2023".

Luís Celínio sublinhou que "a chuva reforçou a beleza das paisagens e conseguimos servir o Douro com chuva e com sol, o que reforçou o encanto desta região e mostrou a toda a caravana, realmente, o Douro como nunca o viram!".

Depois do almoço no Museu do Douro, era tempo de regressar a casa. Antes de seguir viagem, tempo ainda para um último olhar para o rio que define toda a região.

Que a moldou ao longo de décadas e que continua a ser a espinha dorsal de um conjunto de muitos "Douros" à espera de serem descobertos.

Texto, fotografia e vídeo: João Cortesão

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